Estilo pessoal é importante (e está na moda!)

Nem todo mundo entende o que é o trabalho de uma consultora de estilo pessoal. Desenvolver ou aperfeiçoar o estilo do cliente pode ser feito para: 1. Uma pessoa que queira levar o conhecimento adquirido para sua vida cotidiana; 2. Para um veículo de mídia que irá registrar um momento daquela pessoa 3. Ou ainda para quando o cliente vai a um evento e precisa expressar de maneira direta e poderosa sua presença.

O trabalho é sempre desenvolvido em parceria com o cliente, pois seu estilo é dele, claro, e a consultora o ajuda a trazê-lo à superfície, a expressá-lo de forma eficiente. Para explicar melhor como a imagem e o estilo são importantes para cada um de nós, conto com a expertise de Valeria Doustaly, consultora de imagem e vice-presidente da AICI (Association of Image Consultants International) na França, e de Dione Occhipinti, stylist e professora do Instituto Marangoni. As duas ministram o curso Paris Style Week, do qual eu participei em setembro de 2015 e recomendo muito!

Também tomo como exemplo a recente capa da Caitlyn Jenner na Vanity Fair, que trouxe à tona o trabalho da diretora de estilo da revista, Jessica Diehl. Para quem não sabe, Caitlyn antes era conhecida como Bruce Jenner. Ele foi campeão olímpico em decatlo, pelos EUA, em 1976. Nos anos 90, se casou com Kris Jenner, matriarca do clan Kardashian. Há poucos meses, revelou ao mundo que é transexual, e mostrou sua nova expressão visual na reportagem da Vanity Fair, produzida por Jessica. Um clique que comunicava muita coisa: quem é essa mulher, como ela quer se apresentar ao mundo, qual seu papel na sociedade… um baita trabalho de imagem e estilo.

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Caitlyn na capa cuja imagem rodou o mundo

A diretora da revista, um veículo de formação de imagem no mainstream, já é reconhecida no meio, mas com essa capa ganhou fama mundial. Sobre seu trabalho disse à revista Love: “Fotografar celebridades se torna um desafio de administrar pessoas e deixá-las confortáveis; a moda fica menos importante que o estilo e a imagem – você quase quer ficar longe das tendências por que não quer que as pessoas olhem para as fotos e pensem ‘oh, isso é da coleção de outono/inverno’. Você quer que vejam as fotos e pensem ‘essa é uma linda foto da Kate Winslet”. Cabe dizer aqui que a revista Love fez uma edição trazendo só as pessoas que mais merecem destaque no mundo atualmente, e a diretora da concorrente Vanity Fair está lá….

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Jessica Diehl na Love Magazine

Dione, que trabalha como stylist em produções para revistas, explica a diferença entre fotografar ensaios de moda e famosos: “Nos editoriais de revistas temos um tema para o shooting e focamos nele, existe uma história, um sonho. As celebridades são pessoas reais que têm seu próprio estilo e querem estar dentro dele, ser coerentes com sua imagem”, e completa “a imagem deve representar seu estilo pessoal e sua personalidade. É a primeira impressão e conta muito”.

Valeria tem sua carreira focada em “pessoas físicas”, fora do mundo editorial. Especializada no segmento corporativo, ela já cuidou de muitos executivos e explica que a consultoria de imagem pode ser contratada por qualquer um, seja celebridade ou não. Ela exemplifica dizendo que é adequada a alguém que queira mudar seu visual para se sentir mais feliz, por alguma pessoa que precise aumentar sua autoestima com um novo guarda-roupa, ou que esteja procurando um novo emprego e queira aprender a se apresentar melhor ou, ainda, por uma empresa que deseje que seus colaboradores representem seus valores. “E a lista segue. Por isso existem consultoras de imagem mais focadas na aparência e outras que se especializam nos temas de comportamento e comunicação, eu formo parte do último grupo”, diz. Ou seja, consultoria de estilo trabalha por meio das roupas, expressando a personalidade do cliente no que ele usa. A consultoria de imagem trabalha o comportamento e a comunicação, no modo de agir. E as duas podem ser aliadas, em um trabalho conjugado.

Acostumada a desenvolver a imagem de pessoas públicas, Valeria indica que o estilo vem de dentro: “Karl Lagerfeld dizia que ‘si vous n’avez pas un physique élégant, la robe la plus élégante n’arrangera rien’ em português, ‘se você não tem um jeito elegante, o vestido mais elegante não servirá de nada’. Dito isto, creio que se vestir bem vale muito, mas se você não souber levar as roupas de nada servirá. Adequar o jeito de se vestir para se apresentar corretamente numa determinada ocasião é uma das coisas que uma boa consultora de imagem pode fazer pelo seu cliente”. E isso é feito de forma que o cliente se sinta confortável dentro de sua vestimenta e, sobretudo, de sua pele.

Considerando tudo isso e indo um pouco mais além, ouso dizer que o estilo pessoal “está na moda”. E não afirmo isso do nada. Há algum tempo, temos visto a subjetividade predominar quando se trata daquilo que nos desperta desejo. E o que começou no street style, blogs e mídias sociais se voltou para aquele que faz toda essa indústria rodar. Recentemente, a crítica de moda Vanessa Friedman escreveu em sua coluna do New York Times sobre duas exposições que acabaram de estrear em grandes capitais da moda: Paris e Nova York. Ambas exaltam o estilo pessoal de duas figuras importantes da história e, mais do que isso, para delírio das consultoras de estilo, a importância do cliente. Uma é a exibição “La Robe Retrouvée: Les Robes-Trésors de la Comtesse Greffulhe” (Vestidos – os tesouros da Condessa Greffulhe), no Palais Galliera, em Paris, e a outra a mostra “Jacqueline de Ribes: The Art of Style” (Jacqueline de Ribes: A Arte do Estilo) no Met, em Nova York.

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Jacqueline de Ribes fotografada por Richard Avedon – cortesia do Met

Sobre a exposição em Paris, seu curador falou: “Sempre falamos dos designers, mas raramente dos clientes”, justificando a escolha do tema, e completa: “são os clientes que têm mais a nos ensinar (sobre moda)”. Já o responsável em Nova York disse que sua curadoria é sobre “Não comprar muito, mas sim filtrar através da moda para encontrar o que é certo para você”, referindo-se ao comportamento de Jaqueline de Ribes. Vanessa, a jornalista que os entrevistou, arremata: “Apesar de que esses dois estilos pareçam nos mostrar o retrato de uma outra época, as lições mais amplas e abstratas das exposições – sobre pensar por si mesmo, sobre entender que se cria identidade por meio de roupas e, consequentemente, oportunidades – são absolutamente contemporâneas. Mais atemporais até que os vestidos exibidos”. Falou tudo!

Bom, depois dessa dissertação, algumas dicas 🙂 :

Fiquei mais atenta às colunas de Vanessa Friedman após começar a seguir a Consuelo Blocker no Snap Chat (consueloblocker). Vanessa é brilhante em texto e conteúdo. Vale a pena colar nas duas: Blog da Consuelo e Coluna da Vanessa.

Se você é consultora de estilo, não deixe de se associar à AICI. Hoje, a Associação tem também um certificado. No Brasil, apenas três consultoras são certificadas! Valeria recomenda tentar a prova e eu também – plano pessoal para um futuro próximo.

Confira o Paris Style Week, curso com aulas de consultoria de estilo, visitas a ateliês e lojas exclusivas, em Paris, com as professoras Valeria Doustaly a Dione Occhipint. Eu fiz e adorei. A turma para janeiro de 2016 está com inscrições abertas. Na Página do Facebook da PSW você pode encontrar todos os contatos.

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Da esquerda para a direita: Dione Occhipinti, Renata Tenca (estilista), eu e Valeria Doustaly durante visita da Paris Style Week

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Turma da Paris Style Week reunida

Quem anda pela gringa, confira as exposições, por favor! Informações no site do Met  e da Palais Galliera.

Eu não ando na moda e sou tendência?

Sim! Mas, se você andar na moda, também pode ser tendência. E pode, inclusive, ser muito chique e estiloso, sem estar em tendência nenhuma.

Deu um nó?

Bom, ter estilo independe do que os estilistas, a indústria têxtil e as lojas apontam como legal vestir. Mas, ironias da vida, hoje, usar o que todo mundo usa, o que ninguém impôs, o que é popular, virou moda. E  os estilistas, a indústria têxtil e as lojas olharam para as pessoas nas ruas para fazer o que está nas vitrines agora. É a tal da tendência Normcore. O normal no centro. É um movimento muito mais amplo, de cunho social, que engloba a moda.

Esse termo surgiu de um estudo de agências que ficam de olho no comportamento das pessoas para identificar novidades relevantes, que em breve todos vamos adotar. Eu fiz um curso de cool hunting que ensina a pesquisar e abordar temas dessa forma. E hoje trabalho com consultoria de estilo pessoal, que é algo parecido, mas aplicado a um universo micro, o da pessoa, do cliente. Gosto de pensar que essas duas visões tem um conjunto de intersecção, compartilham um resultado (alô, aula de matemática, falei certo?).

Explico isso e também um pouco mais para o Max Fivelinha – que é um querido e já não usa nada no cabelo e anda bem Normcore (BRINKS). Dá o play e prestigia minha primeira entrevista do outro lado do balcão:

Se essa história de  ter um estilo próprio, de como fazer para expressar sua personalidade na aparência, como usar roupas de forma esperta e consciente te interessa, me manda um email 😉 contato@ninguemperguntou.com ou camilar80@gmail.com

As drags do RuPaul no centro da moda

Drag já não é mais tendência, é moda. Quatro rainhas saídas do RuPaul’s Drag Race (se não sabe ainda o que é isso, eu contei aqui) estampam camisetas de marcas mainstream descoladíssimas e eu já estou dando um jeito de contrabandear encomendar as minhas.

A primeira leva é da American Apparel, que convocou logo um trio: Willam, Alaska 500 e Courtney Act. Veja o vídeo de divulgação da collab e morra comigo:

A linha tem várias peças no estilo nightclubbing – como leggings, bodys, meias – mas, o que cobicei mesmo foram as camisetas.

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O segundo lançamento fashion é do Marc Jacobs, que não perde tempo jamais e fez uma t-shirt com estampa do Milk, participante meio circense da sexta temporada. A peça é de uma linha beneficente, em prol do câncer de pele, que já vendeu milhares de camisetas com a frase “protect the skin you are in” sobre a foto de alguma celebridade nua. Dessa vez a série, que já estampou Mrs. Beckham e Miley Cyrus, tem como estrela a drag queen, acompanhada de uma mensagem mais ousadinha. Toda a renda das vendas será doada para o NYU Skin Cancer Institute. Acho chique.

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Ambas marcas vendem online. A American Apparel entrega no Brasil, apesar disso, tentarei descobrir se a linha das queens chega nas lojas daqui também e colocarei um update.

Já a Marc Jabobs, não entrega em terra brasilis, fuen 🙁 Mas, de repente, rola de mandar para a casa de um amigo que mora nos EUA…

*As fotos são de divulgação das marcas

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Quem não se lembra da loiraça de proporções avantajadas da série Baywatch, ou SOS Malibu no Brasil, que salvava os afogados e engasgava os telespectadores?

Famosa pelo desempenho televisivo assim como sextapístico, ela foi símbolo de muita coisa, mas ícone de moda não. Bom, isso até setembro de 2014, pois duas publicações decidiram estampa-la em editoriais classudos. Uma delas nada mais do que a CR Fashion, revista de Carine Roitfeld, ex-editora-chefe da Vogue francesa, uma das mais respeitáveis e reverenciáveis jornalistas de moda atualmente.

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A outra é uma revista modernete da Califórnia, que eu nunca tinha ouvido falar, chamada NoTofu, que parece muito bacaninha. Desta, a loira também é capa. Irreconhecível, né?
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Vale ainda dizer que a CR Fashion traz outros ícones pop americanos nesta edição, como a diva Beyoncé, a baby celebrity North West (filha de Kanye West e Kim Kardashian) e a vencedora do Eurovision 2014 Conchita Wurst (falei que as drags/trans são tendência). Acho que esse holofote dado por uma revista de nicho sobre o maisntream está relacionado ao Normcore, movimento sócio-cultural que coloca o “normal’ como a nova tendência, que por sua vez é alimentado pela volta dos anos 90 e pelo cansaço da “busca pelo novo” e do excesso de informações atual. Mais fácil, mais divertido e mais garantido investir nosso tempo e nosso prazer naquilo que já é consagrado, naquilo que é acessível. Pretendo discorrer sobre o assunto em outra oportunidade, quando tiver pesquisado mais a fundo.

As revistas podem ser vistas em suas versões online aqui e aqui, sendo que a CR Fashion vai soltando teasers aos poucos, até que sua quinta edição saia, em meados de setembro (a publicação é bianual).

*Fotos: NoTofu Magazine, Zoey Grossman/ CR Fashion, Johnny Dufort

Colete oversized

Uma tendencinha que vai pegar em breve: colete oversized, usado sobre roupas leves, como vestidinhos, ou sem nada por baixo.

Se a Olivia Palermo apareceu com um, pode acreditar. Quando chegar a primavera e esquentar um pouco mais, vai ser hora de encontrar o seu 😉

 

colete preto

*Fotos do site WhoWhatWear

In My Shoes – a criação da marca Jimmy Choo

“It’s really hard to walk in a single woman’s shoes — that’s why you sometimes need really special shoes!” Carrie Bradshaw

Jimmy Choo é um dos designers de sapatos mais famosos de todos os tempos. Nos pezinhos de Carrie Bradshaw, a íconica personagem de Sarah Jessica Parker na série Sex and the City, seu nome virou sonho de consumo de milhões de mulheres. O cara deve ser realmente uma baita designer mesmo, certo? ERRADO.

Pois é, amiga. Jimmy era um sapateiro muito bom, sim. Ele fazia pares sob medida para as socialites inglesas e, sabendo disso, a editora de acessórios da Vogue Britânica passou a encomendar peças para os editoriais quando tinha ideias mirabolantes, como plataformas de cetim pink, que não achava em loja nenhuma. Essa moça, porém, foi demitida e, diante desse revés da vida, teve a brilhante ideia de abrir um negócio com o tiozinho sapateiro, um imigrante malásio, avesso à publicidade, ao mundo da moda e aparentemente mal-humorado. Apegado aos velhos moldes de sapatos de senhoras e pouco disponível para o circo fashion, deixou espaço para que a sócia assumisse de fato a criação e alavancasse a marca. Foi aí que começou uma das histórias mais incríveis dessa indústria, cheia de intrigas, reviravoltas e glamour.

Tudo isso virou livro, In My Shoes (Companhia Editora Nacional),  escrito pela cofundadora da Jimmy Choo, a ex-editora da Vogue, Tamara Mellon, em parceria com um jornalista. Então, claro que é super parcial. Mas, não deixa de ser uma visão muito interessante e, pelo que andei pesquisando sobre os fatos por aí, realista.

A história nos leva para dentro do mundo da moda e, além disso, dos negócios ferozmente articulados nos altos escalões do mercado financeiro. Eu, que já passei muitos anos cobrindo e depois assessorando clientes dessa área, devo admitir que adorei as passagens que narravam reuniões de conselho e transações de private equity (acho chique entender de finanças hahaha).

in my shoes

A prosa é muito bem feita e a tradução também. Tamara é uma personagem e tanto: bela, rica, namorou o Christian Slater, é amiga de vários famosos e foi condecorada pela rainha da Inglaterra. Vale ressaltar que os bastidores do mundinho estão ali tanto quanto as tramóias nos negócios, por isso, não se assuste, a leitura vai ser divertida. E o livro traz muitas informações sobre a cena nas últimas duas décadas, daquele tipo que agrega muito e te faz parecer uma insider em qualquer conversinha em corredor de semana de moda (ui). Brincadeiras à parte, é uma delícia para quem gosta do assunto 😉

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E como ninguém pergunta mas eu falo mesmo, fica aqui mais uma diquinha: Do Tornozelo Para Baixo (Rachelle Bergstein, editora Casa da Palavra). O livro conta a história do sapato, como se relacionou com a posição da mulher na sociedade ao longo dos tempos, passando pela moda, claro, pelo cinema e pela cultura como um todo. Muito bem apurado e escrito, extremamente interessante até mesmo para quem não gosta muito desse papo das modas.