Como usar roupas claras ou escuras para destacar sua beleza natural

Na análise global que faço na consultoria de estilo considero a coloração pessoal, e uma das características que observo para descobrir a cartela de cores do cliente é a sua profundidade. Ou seja, se os tons do seu rosto – pele, olhos, sobrancelha, lábios e subtons como olheira e veias – são mais claros ou mais escuros.

As pessoas mais escuras têm sobrancelha preta ou castanho escura, olhos castanho escuros, cílios mais destacados. As claras têm tons mais loiros, castanho claros ou mais acinzentados. Os olhos também são mais claros e a pele tem menos subtons escuros; as olheiras são mais marrons ou avermelhadas, enquanto pessoas escuras têm olheiras mais roxinhas. Isso não é algo que se mede pelo tom de pele, tem a ver com o conjunto do rosto. Quanto mais escura a pessoa for, mais profunda ela é. Vamos a um exemplo de duas pessoas com cabelos e olhos castanhos, mas com profundidades diferentes: Angelica Huston e Drew Barrymore, no filme Para Sempre Cinderela:

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Bom, ao transpor a coloração pessoal para roupas, o ideal é compor o look de acordo com o nível de profundidade. Quem tem tons escuros, mais fortes, harmoniza melhor com cores que seguem essa linha. Cores muito suaves ou delicadas podem deixá-la sem vida, apagada. Pessoas claras e delicadas ficam melhores com uma cartela com essas características, para não “sumirem” dentro da produção.

rachel bilson e kate bosworth
Duas mulheres que são referência de estilo, brilhando: Rachel Bilson, escura e com roupas idem; e Kate Bosworth, clara e usando tons delicados.

Cores também transmitem mensagens. Não é a toa que uma atriz forte e de cores profundas, como Angelica Huston, foi escalada para viver a madrasta em Cinderela. E sua antagonista, mais romântica, tinha uma coloração oposta – que também é refletida no figurino. Um bom exemplo, e extremamente evidente, de caracterização de figurino também pode ser visto no longa Cisne Negro. Nele, Natalie Portman vive uma bailarina com conflitos psicológicos, que assume duas personalidades. Uma delas é intensa, forte e dramática, usando somente cores escuras. A outra é sensível, volátil e tolerante, vestindo apenas cores claras. E o recurso cromático de apoio ao enredo não se restringe à bailarina, todas as personagens que se relacionam com seu lado “negro” usam cores profundas e vice versa.

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Mila Kunis e Natalie Portman em cena de Cisne Negro

Uma pessoa de cores claras pode não ter exatamente uma personalidade delicada. Ou pode querer transmitir mais força, sobriedade. Então, o uso de cores escuras a ajudará nisso. E o contrário também é válido. Uma pessoa de coloração escura pode querer transmitir leveza, abertura. Para não ficar um look descompensado, a saída é sempre buscar equilíbrio, usar uma maquiagem que destaque mais os traços do rosto ou algum elemento, como um lenço, que esteja na sua coloração pessoal. O bacana é entender como as cores podem agir no nosso estilo e, assim, ter informação para aproveitar seu poder. Não existe certo ou errado, melhor ou pior. Se te interessou saber qual é sua coloração pessoal, entra em contato comigo clicando aqui 😉

Grey Gardens, uma lição de estilo

Grey Gardens (2009) é o filme que reconta a história do documentário de mesmo nome, sobre a tia e a prima de Jacqueline Onassis (as duas chamadas Edith Bouvier Beale ou “Big Edie e Little Edie”). Feito para a HBO, é um pouco mais palatável ao gosto atual da audiência do que o documentário original, e com um ponto, ou melhor, dois, incríveis: Jessica Lange e Drew Barrymore nos papéis principais. O filme está disponível no catálogo do Now, da Net, na oferta da HBO, entre aqueles que não temos que pagar. Ótima oportunidade.

Para mim, além de uma história maravilhosa, é um belo exemplo do que se pode chamar de estilo pessoal. Principalmente a figura da Little Edie. Isso porque, os dicionários e afins – você pode verificar aqui e aqui – deixam a desejar e não explicam muito bem o que seria estilo quando se trata de um adjetivo aplicado a pessoas. E com elas vemos o que é sendo.

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Little Edie em duas etapas da vida

Eu, como consultora de estilo pessoal, posso dizer que é o conjunto de escolhas, gostos e prioridades que traduzem a personalidade de alguém. Quando colocado em expressão visual, em roupas, acessórios, cabelo, maquiagem, indumentárias ou na falta delas também, pode ser chamado de estilo. Uma pessoa que se destaca entre as outras, que quando vemos algo e nos lembramos imediatamente dela e soltamos “nossa, esse lenço (gravata, colar etc) é a cara de fulano”, que tem sempre uma coerência ao se apresentar, uma presença marcante – ainda que use roupas discretas, tem um estilo bem definido. Isso não quer dizer que aquele seu amigo que veste a primeira camisa da gaveta não tem estilo nenhum. TODO MUNDO tem estilo. Afinal, todos fazemos escolhas, mesmo que seja vestir qualquer coisa – quem é assim quer mostrar que não liga para moda, que tem um estilo descontraído ou rebelde. Alguns sabem expressá-lo bem, outros nem tanto.

Voltando ao filme, as personagens principais tem um estilo muito próprio e seguem assim até mesmo quando perdem o senso de convívio em sociedade, até mesmo quando estão em um mundo à parte. Um exemplo muito claro de autoconhecimento e expressão. Eu fiquei fascinada.

Bom, a história, já devo ter causado curiosidade, é sobre mãe e filha que vêm de uma alta linhagem nova-iorquina, porém, por conta dos revezes da vida e da falta de tino para sobreviver financeiramente, acabam perdendo tudo o que têm. Assim, vivem isoladas na casa de praia da família, a Grey Gardens, num mundo onde pensam ter glamour, mas onde só há insalubridade e decadência.

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Mãe e filha em tempos áureos e depois vivendo a duras penas, mas ainda mantendo o estilo

Além de uma aula de estilo, a história nos faz pensar sobre valores e determinação. De alguma forma, essas duas mulheres se mantiveram firmes em suas crenças. O ar kitsch e o evidente viés fashion fez da obra original um cult entre o povo indie e fashionista. Contudo, acho que é muito mais interessante olhar para essa história com a cabeça aberta e despida de preconceitos. O que quero dizer é que não devemos encarar as Edies como duas criaturas excêntricas e divertidas em sua viagem autoalienante. Acredito que elas foram mulheres a frente de seu tempo, em uma sociedade onde não havia espaço para que crescessem. Aferradas em seus valores, sucumbiram e não tiveram meios para sobreviver.

casa nova

casa destruída
O antes e depois de Grey Gardens

Se interessar ver também o lado real dessa história, tá aqui o documentário, de 1975, inteirinho no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=GP2KjNge1FY