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 Publicação: InfoMoney

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 Data: Julho de 2008

Entrevista com gestor de fundo austríaco, um dos maiores do mundo, sobre alta no setor de commodities

Leia a transcrição da matéria:


 

SÃO PAULO – As commodities vêm ganhando cada vez mais destaque no noticiário financeiro, na medida em que seus preços internacionais estão subindo continuamente, causando pressões inflacionárias em todo o mundo.

Contudo, na última semana, as cotações de matérias-primas apresentaram a maior queda do ano. O índice do setor Dow Jones AIG Commodities Cash Index recuou 7,6% no período, em reação às expectativas crescentes de que um esfriamento da economia global acarretará menor demanda por energia, grãos e metais.

Em adição, a economia chinesa se expandiu no segundo trimestre no menor ritmo desde 2005, o que faz muitos economistas apostarem que o país – um dos principais responsáveis pelo aumento do consumo mundial de alimentos – está demonstrando o primeiro sinal de que a bolha das commodities pode estourar.

Rali tem fundamentos

Lance Reinhardt, diretor para a América Latina do grupo austríaco Superfund, que administra cerca de US$ 1,6 bilhão, principalmente no mercado futuro de commodities, não acredita que os preços de matérias-primas devam entrar em tendência de baixa tão cedo, mesmo diante da recente correção.

Se por um lado o índice Dow Jones AIG Commodities Cash Index apresentou a maior queda dos últimos meses, em um ano o benchmark acumula alta de 30%. Para Reinhardt, as commodities apresentam, historicamente, ciclos de preços que duram 20 anos. “Eu acredito que este rali tem, com certeza, bases em fundamentos e não acho que o movimento deve terminar tão cedo”, afirma o economista.

“O último ciclo de preços terminou em 1990, década que registrou um movimento de baixa. A partir daquele ano, começamos a ver um forte aumento no preço das commodities. Então, vamos ter, muito provavelmente, um forte movimento de alta por mais uns oito ou dez anos”, prevê Reinhardt.

Para o gestor, o preço do petróleo é uma das evidências de que o rali das commodities está apoiado em fundamentos econômicos. “Agora, o mundo produz cerca de 85 milhões de barris de óleo por dia, mas consome 86 milhões. Então, obviamente, o problema não decorre da especulação financeira, mas de um choque de demanda”, avalia. “Em adição, se você olhar para o cenário global, em todo lugar há protestos violentos em torno da falta de comida, como na China e na Índia”, ressalta o economista.

Brasil

Apesar das incertezas e turbulências que a escassez de oferta das commodities causa no mundo, para Reinhardt, no Brasil este problema não existe, uma vez que “a economia agrícola é muito eficiente e produtiva”. Para ele, a elevada cotação do petróleo obrigará a economia mundial a procurar por fontes alternativas de energia, “quesito em que o Brasil está um passo a frente”.

“No Brasil, as pessoas podem ir a um posto e abastecer seus carros com álcool ou gás natural, enquanto em outros países só existe gasolina e diesel”, ressalta.

Energia alternativa

Além disso, o uso de grãos para fazer etanol, como nos Estados Unidos, é uma das razões que farão o preço das commodities seguirem no rali, ao contrário do Brasil, onde a cana-de-açúcar não concorre com outras lavouras, aponta o economista.

Em termos de fontes alternativas de energia, Reinhardt ressalta que “é de reconhecimento geral que o mercado aqui é o mais avançado, já que cerca de 30% dos carros têm motor movido a álcool ou gás natural e existe uma penetração evidente no mercado consumidor”.

“Isto é uma vantagem econômica para o País, pois diminui sua dependência por petróleo e estimula o crescimento econômico, movimentando tanto a agricultura quanto a indústria. Eu acredito que, no futuro, muitos países irão seguir o exemplo do Brasil”, conclui.