Moda Real x Moda Conceitual

O meu trabalho como consultora de estilo é fundamentalmente direcionado para a moda real. O que isso quer dizer? “Moda real” não é uma expressão oficial ou um termo acadêmico. É algo que surgiu pelo uso comum. Podemos classificar talvez como um jargão de mercado, mas não passa disso. Então, pelo meu entendimento, que se formou vendo seu uso corriqueiro, moda real é aquela que serve a propósitos práticos. Ou seja, a roupa que usamos em nossa rotina, as produções que as pessoas vestem para trabalhar, ir ao cinema, malhar. Não é a roupa especial, a exceção, a que vemos em editoriais de revistas, em tapetes vermelhos de festas do cinema, em celebridades que parecem inatingíveis.

Portanto, essa roupa (e os acessórios que a complementam) deve se adequar ao nosso corpo e não o contrário. Deve nos vestir bem, ficar bem colocada na nossa figura. Também deve ser confortável. E servir a seu propósito, ou seja, se é para trabalhar tem que estar adequada para as funções que a sua profissão exige. E, para tanto, deve também transmitir as mensagens adequadas. Me explico: se você trabalha como professora de escola infantil certamente se movimenta bastante e precisa de peças com tecido flexível. Mas, também, precisa aparentar abertura e credibilidade. E, imagino, queira estar elegante e bonita.

Melania Collage

Manga bufante desfilada pela Gucci, em setembro de 2017. Ao lado, Melania Trump em seu primeiro discurso como primeira dama, no mesmo mês, usando modelo Del Pozo. Em breve as mangas bufantes estarão popularizadas.

Muito bem. Então a moda real é de extrema importância para mim. Mas a moda conceitual, aquela que se aplica muitas vezes às exceções que citei, também. E por que isso? Em primeiro lugar, por que eu gosto. Em segundo, por que é de conceitos, de quem cria, imagina, antevê, que tiramos novas ideias, inspirações. A arte é assim. A ciência é assim. Sei que para muita gente, as coleções apresentadas em passarela parecem coisa de outro mundo, “algo que ninguém usaria”. São, muitas vezes, conceitos. Ideias em estado “bruto” que serão depois assimiladas, reinterpretadas e colocadas em prática nas ruas. Podem ser propostas ousadas que nos fazem refletir sobre o uso que estamos fazendo das roupas. Quem disse que as mangas devem ser sempre assim ou assado? Aí vem um estilista e as aumenta ou as suprime. E quem disse que homem não pode usar saia? Alguns estilistas pensam nessas coisas e propõe algo diferente. Outros, querem apenas transmitir sensações com as roupas que criam, desafiando os padrões estéticos.

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Blazer alongado da coleção da Gucci primavera 2018 e inspiração usada nas ruas

A moda conceitual, hoje em dia, está mais evidente nos desfiles de alta costura. Os desfiles que vemos nas semanas de moda de São Paulo, Paris, Nova York, estão mais alinhados à moda real, procurando identificar os gostos e o estilo dos consumidores de cada marca. Mas, mesmo esses eventos, sempre trazem muitos conceitos pontuados. São as estranhezas que a gente vê na passarela, como golas muito grandes ou modelagens incomuns.

A moda conceitual também aparece em editoriais de revistas, em ensaios fotográficos que nos contam histórias, nos propõem um novo olhar sobre o que é considerado belo e interessante. Ela é importante pois é arte. Basta dar um Google e averiguar as exposições em cartaz hoje nos principais museus do mundo. Todos trazem algum tema de moda. A arte expressa, debate, canaliza, reinterpreta, enfatiza o que somos, sentimos, fazemos e valorizamos enquanto sociedade. Portanto, o conceito me ajuda a crescer, a alimentar a criatividade e pode ser aplicado como uma ideia. O real é aquilo com que trabalho, com que me conecto com clientes, que uso como matéria-prima essencial na identificação do estilo de cada um.